Na contramão do que muita gente pode pensar, a future thinker Ligia Zotini Mazurkiewicz acredita que a próxima grande revolução será moral e liderada pelas crianças que, atualmente, estão nos nossos lares, em nossos colos.
Na contramão do que muita gente pode pensar, a future thinker Ligia Zotini Mazurkiewicz acredita que a próxima grande revolução será moral e liderada pelas crianças que, atualmente, estão nos nossos lares, em nossos colos.
Na contramão do que muita gente pode pensar, a future thinker Ligia Zotini Mazurkiewicz acredita que “a próxima grande revolução será moral e liderada pelas crianças que, atualmente, estão nos nossos lares, em nossos colos”. Foi com essa convicção que ela criou a startup Voicers, um ecossistema digital de educação, que tem como propósito democratizar o acesso às tecnologias e vozes que pensam o futuro, para que ele seja visto de forma positiva e exponencial, contribuindo para que distopias tecnológicas não se concretizem.
Antes do projeto, Ligia, que se formou em Administração e fez mestrado em Marketing, havia construído uma carreira de 12 anos em empresas multinacionais, além de conciliar as atividades como professora na área de Negócios e de Idiomas. Em 2016, ela participou de uma missão educacional no Vale do Silício. Voltou de lá decidida a pedir demissão para investir num novo propósito. Tinha em mente que tanto acesso à tecnologia não podia ficar restrito a pequenos grupos.
Em 2016, como professora, fez um primeiro experimento daquilo que se tornaria um grande projeto de difusão de tecnologia aliada à educação e à formação humana. “O período em que trabalhei no mundo corporativo foram anos muito importantes e felizes, mas havia algo que precisava ser alinhado. Eu sentia a necessidade de conjugar três características que me acompanhavam desde sempre: a preocupação com educação, a paixão pela tecnologia e o interesse em uma consciência planetária, sem fronteiras”, conta.
Durante um semestre, ela ministrou uma disciplina cujo título era “Tecnologia e Liderança no Século 21’’, para alunos de graduação da Faculdade Paulista de Pesquisa e Ensino Superior (FAPPES). “Como, sozinha, eu não conseguia abordar todas as temáticas, a cada semana eu levava uma pessoa, ‘uma voz’, para falar com os alunos.
Um trazia óculos de realidade virtual, outro levava um robô ou um drone. Só que as pessoas que eu levava para falar com os estudantes tinham, além desse ponto em comum, um outro aspecto tão importante quanto, que os unia. Eles são todos seres humanos fantásticos e a visão que levavam para completar minhas aulas tinha a ver com uma formação adequada para o uso das tecnologias para que não vivamos um futuro distópico”, conta.
Ligia percebeu que estava na direção correta e um novo projeto de vida começava a surgir quando acompanhou o sucesso de um dos vídeos sobre as aulas, que teve milhares de reações, comentários e compartilhamentos nas redes sociais. “Por mais que os jovens estejam ligados à tecnologia, eles, em geral, não têm acesso aos criadores, aos inventores disso tudo. Isso ajudou as aulas a terem muito sucesso e a serem difundidas”, relembra.
Por outro lado, ela sentia que aquelas atividades e a forma de compreender a tecnologia aliada ao crescimento exponencial do ser humano não podia ficar restrita às salas de aula. Foi assim que surgiu o Voicers, focado na difusão de ideias por pessoas que antecipam o futuro e são experts nas áreas de tecnologia, ciência, inovação e, claro, desenvolvimento humano.
Para dar contorno ao projeto, em primeiro lugar, ela reuniu pessoas com quem tinha contatos no mundo corporativo e têm muito conhecimento em suas áreas. “Mas eu sempre tenho em mente que esses meus parceiros não podem apenas ter muito conhecimento. Só isso já não basta. Eles devem ser também seres humanos lúcidos, com pluralidade, com diversidade”. Assim, o Voicers nasceu para contrapor às múltiplas distopias que, sobretudo no cinema e em séries produzidas nos Estados Unidos, apresentam um futuro devastador.
“Não acredito que a realidade no futuro será esta que o cinema de Hollywood se acostumou a mostrar para nós, que é colocar o melhor da tecnologia com o pior do humano. Precisamos acreditar numa tecnologia que seja exponencial, mas que o ser humano também utilize toda a sua capacidade de transformação”, defende a empreendedora.
Como plataforma digital, o Voicers reúne atualmente cerca de 50 profissionais, de diversas áreas e formações, que acreditam na tecnologia e nas potencialidades do ser humano, desde que haja um trabalho educacional envolvido. É como se essas pessoas já vivessem no futuro e usassem a plataforma para amplificar suas vozes, ajudando a sociedade a se preparar para as próximas décadas.
A plataforma conta com profissionais vindos de áreas distintas, como Comunicação, Engenharia, Administração e Design, entre outras, que produzem vídeos difundidos pela internet. Além disso, são realizadas atividades de experiências tecnológicas voltadas a grupos, pessoas, faculdades ou empresas, e também encontros presenciais, em diversos formatos, chamados de Tech Talks. Os conteúdos são reunidos em três grupos temáticos principais: Tecnologia, Tendências e Pessoa no Século XXI.
Humano x Desumano
Já que não foram poucas as produções literárias e cinematográficas distópicas surgidas nos últimos 50 anos, a visão dos Voicers tem o grande desafio de apresentar uma nova possibilidade de o mundo lidar com os avanços tecnológicos e com a relação do ser humano com as tecnologias. Entre o grupo, há até um trocadilho: nada de “pôr a mão na massa. Aqui é lugar de pôr a mão na máquina”. Isso porque Ligia defende que é preciso repensar a relação do ser humano com as invenções tecnológicas. “Quando a máquina faz algo melhor que o ser humano, trata-se, portanto, de um trabalho desumano. O que vai sobrar quando as máquinas fizerem o trabalho de homens e mulheres? É preciso preparar as pessoas para criar, cuidar, curar, conhecer e compartilhar. Esse é o nosso trabalho e o nosso foco”.
Quando o assunto são as relações humanas no futuro, a visão de Ligia e dos outros voicers têm clareza na necessidade de formar pessoas que possam conviver com a diversidade e pluralidade, construindo suas histórias independente de estereótipos e padrões. Além disso, é preciso preparar para as mudanças no mundo do trabalho e na própria maneira de ensinar e aprender. No futuro, haverá menos oportunidades de emprego formal, o que, se houver uma preparação adequada, pode fazer surgir grandes talentos. Organizados em uma nova proposta de relações de emprego, os profissionais do futuro não procurarão emprego, mas sim fontes de renda usando seus talentos de forma plural. A defesa do grupo é de que a segurança dos contratos de trabalho e a estabilidade, muitas vezes, pode mascarar verdadeiros talentos. E, nesse mundo, a escola não poderá jamais continuar centrada na reprodução de conteúdos que podem ser facilmente acessados.
“As competências, no futuro, não serão medidas pela capacidade de lembrar coisas, mas por aquilo que as pessoas conseguirão criar”, acredita Ligia.
Retornos
Depois de quase dois anos de projeto, a empreendedora já recebeu retornos positivos de diversas empresas de tecnologia e automação. Por outro lado, ela precisou aprender a lidar com olhares que só veem os aspectos negativos dos avanços tecnológicos. Alguns se aproximam para perguntar: “mas será que não haverá mais desemprego?”. Esses, Ligia, em geral, responde: “haverá mais pessoas que podem se tornar desempregáveis, ou seja, que perderão suas funções. A essas, é preciso preparar para atividades que sejam inventivas”. E o medo, como lidar com ele? A resposta está na mesma linha: “o temor é pelo desconhecido e a proposta do Voicers é criar narrativas como pontes para o futuro”.
Por Fabiano Ormaneze