A evolução tecnológica e as mudanças comportamentais delas derivadas trazem não só o desafio de preparar crianças e jovens, como também o de propor uma educação que prepare os adultos para a clareza de riscos e a necessidade de construção conjunta do futuro e permitam uma atitude mais consciente dos processos de inovação.
A evolução tecnológica e as mudanças comportamentais delas derivadas trazem não só o desafio de preparar crianças e jovens, como também o de propor uma educação que prepare os adultos para a clareza de riscos e a necessidade de construção conjunta do futuro e permitam uma atitude mais consciente dos processos de inovação.
A evolução tecnológica e as mudanças comportamentais delas derivadas trazem não só o desafio de preparar crianças e jovens, como também o de propor uma educação que prepare os adultos para a clareza de riscos e a necessidade de construção conjunta do futuro e permitam uma atitude mais consciente dos processos de inovação.
“A escola e o ensino para o futuro precisam ser criados e colocados em prática hoje. As necessidades são claras e precisamos supri-las”
“O futuro é hoje, é agora”, afirma o professor da Universidade de São Paulo (USP), José Carlos Moran, que, entre o final dos anos 1980 e o começo da década de 1990, foi um dos responsáveis pela criação da Escola do Futuro, projeto pioneiro na discussão sobre como preparar melhor estudantes e educadores para o que está por vir.
“Começamos em meio ao advento da internet, que ainda era algo desconhecido. Nosso principal objetivo era discutir os novos desafios que surgiam para a educação nessa nova realidade”, explica.
Como um visionário, Moran e seu grupo, à época, antecipava discussões que só agora merecem mais destaque nos espaços escolares, como a necessidade de uma educação que use todos os recursos não apenas de forma instrumental, mas realizando também uma reflexão sobre suas utilidades. “A escola e o ensino para o futuro precisam ser criados e colocados em prática hoje. As necessidades são claras e precisamos supri-las”, acredita Moran. Os dados sobre a educação no Brasil reforçam a ideia do professor. Em 2015, no mais recente estudo do Programa Internacional de Avalição de Alunos (Pisa, sigla em inglês para Programme for International Student Assessment), que mede, a cada três anos, o nível do ensino em diversos países do mundo, o País figurou nas últimas posições em todas as áreas avaliadas. Das 72 nações participantes, os estudantes brasileiros ficaram no 66º lugar em Matemática, no 63º em Ciências e em 59º em Leitura. O Pisa é coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Além das dificuldades indicadas no levantamento, a realidade fica ainda pior, quando se pensa naqueles que não participaram dos testes, porque abandonaram a escola. A evasão no Brasil, de acordo com o Ministério da Educação (MEC), atinge cerca de 7% no Ensino Fundamental e 12% no Ensino Médio. De acordo com Moran, entre as causas para o abandono está uma escola pouco atrativa para os estudantes, o que se soma à necessidade de trabalhar para auxiliar financeiramente a família.
“A escola precisa ser vista como um espaço que vai proporcionar aos alunos elementos para o seu crescimento. Cabe à educação a abertura do horizonte da construção de um projeto de vida, saber que é possível construir um futuro melhor graças a ela. Isso precisa começar logo na educação básica”, acredita o professor.
Futurologia e educação
A discussão sobre o amanhã ganhou contornos teóricos na década de 1970, tendo uma brasileira no grupo de pioneiros. A professora Rosa Alegria sempre teve curiosidade em relação ao que poderia acontecer com sociedade e tornou-se uma futurista formada pela Universidade de Houston, nos Estados Unidos, uma das primeiras escolas a teorizar sobre o futuro, a partir de um cenário de tendências construído pela observação metódica do presente e do passado. “O futurismo estuda quais caminhos nos levarão às novidades. Tentamos antecipar esses eventos para lidarmos melhor com tudo isso”, contextualiza.
De acordo com Rosa, a análise das mudanças sociais e das estatísticas, aliadas à reflexão sobre o comportamento humano e à geopolítica, pode ser útil nessa tentativa de interpretar o futuro.
“O futurismo tem mais a ver com antecipação do que com previsão. Não tem nada a ver com adivinhação. É análise a partir do que já vivenciamos e das características que as pessoas têm, em como elas costumam se portar”, explica.
Para evitar confusões de terminologia e que poderiam associar o campo à astrologia ou a qualquer pseudociência, os pesquisadores da área preferem usar o termo “Futurismo” a “Futurologia”. Atualmente, Rosa está à frente da implantação de uma plataforma educacional chamada TTF – Teaching To Future, criada na Alemanha e que chega ao Brasil este ano envolvendo a preparação de professores e estimulando a criatividade nos estudantes. Projetos como esse criam uma prática educacional que, ao mesmo tempo, forma para a atuação profissional, mas também ajuda a criar agentes de transformação.
É por isso que, entre as preocupações dos especialistas em Futurismo, está a discussão sobre as bases educacionais a serem implantadas. “O ensino hoje está defasado e ainda tem características que remetem à Revolução Industrial. Os alunos precisam aprender sobre o passado, sempre olhando para frente, sendo estimulados a desenvolver a capacidade criativa. Tão importante quanto o que eu estou aprendendo é a forma como as informações estão sendo transmitidas. Temos várias possibilidades para isso e a tecnologia é uma aliada nesse sentido”, destaca Rosa.
De acordo com a futurista, em vários aspectos, o Brasil vai na contramão de uma atualização. Entre os pontos que provam isso, ela cita o fato de, em 2017, o Governo Federal ter definido as bases comuns para a educação nacional, com a expectativa de alunos de todos os Estados, de escolas públicas e privadas, terem o mesmo currículo. “Cada vez mais, o aluno demanda um ensino personalizado que consiga captar as habilidades de cada um e desenvolvê-las da melhor forma possível. Porém, é algo que demandaria custos e que os governos não parecem estar dispostos a arcar”, acredita a futurista.
Nos Estados Unidos, o teórico de negócios Clayton Christensen, autor, entre outros, dos livros “O Dilema da Inovação” e “Inovação na Sala de Aula”, defende que a escola pode passar pelos mesmos processos de ruptura que uma empresa para mudar a forma de ensinar. Apesar de ter causado polêmica, ele defende que existem questões muito parecidas no mundo da educação e no dos negócios.
Uma das defesas que ele faz é da educação à distância, que poderia abarcar diferentes formas de aprender, pois o aluno teria condições, a partir da internet, de entrar em contato com professores com diferentes métodos, sem ser obrigado a ter aula com aqueles que a escola lhe impõe. De acordo com Christensen, as escolas e as atividades desenvolvidas devem possibilitar que os estudantes se sintam sempre bem-sucedidos, exatamente como no mundo dos negócios.
Cabe à educação a abertura do horizonte da construção de um projeto de vida, saber que é possível construir um futuro melhor”.
Questões básicas
Além da necessidade de uma educação personalizada, o desafio é estrutural. “Hoje muitas escolas têm 35, 40 alunos por sala. É muito complicado para o professor desenvolver qualquer atividade com um número tão grande de pessoas. Trabalhos e dinâmicas em grupo são instrumentos de desenvolvimento, mas, nessa escala, é impossível para o educador atender cada aluno com a atenção e acompanhamento necessários”, completa Moran.
Segundo o estudo Políticas Eficazes para Professores: Compreensões do Pisa, divulgado no começo de junho deste ano pela OCDE, o Brasil é um dos países com o maior número de alunos por sala de aula. No país mais populoso do mundo, a China, em média 12 estudantes compõem uma turma, enquanto por aqui a média é de 22 alunos. O número só não é maior que o da Colômbia, com 27 estudantes em média.
Apesar de estudarem as relações entre sociedade, educação e tecnologia, tanto Moran quanto Alegria acreditam no professor como centro de todo o processo educacional, o que exige uma valorização da carreira. “Ao mesmo tempo em que os salários caem, o professor tem mais alunos para ensinar e orientar, sem o mínimo de estrutura e recursos para isso, em especial, nas escolas públicas. Isso acaba por minar as iniciativas em desenvolver novos métodos e atividades didáticas”, acredita Moran.
“Hoje em dia, a tecnologia está ao alcance de todos e deve ser um instrumento do ensino. Fala-se muito em aula invertida, mais interativa, mas como fazemos isso com esse cenário? Precisamos de investimento e resgatar os sonhos que a educação pode proporcionar”, complementa o professor. Como aula invertida, Moran refere-se ao método de ensino em que um problema ou desafio é passado aos alunos. Na busca pela resolução, vão sendo construídas e pesquisadas relações e teorias.
A essa questão, Rosa acrescenta que os pais têm um papel determinante: “pais e a comunidade são fundamentais nas discussões sobre o ensino e sobre futuro. Cada um pode contribuir de alguma forma e a troca de conhecimento estimula todos a criar e propor novas ideias”.
A educação tem impactos diretos em questões que, atualmente, estão mais no campo do discurso político do que se convertendo em práticas, como a sustentabilidade e a redução das desigualdades. Pouco são os projetos que, ao pensarem o futuro, promovem uma transformação desde o presente, envolvendo jovens, por exemplo, em ações de empreendedorismo social.