Há pouco mais de dez anos, surgia no bairro do Capão Redondo, periferia da capital paulista na zona sul, e um dos mais carentes da cidade, o projeto Fábrica de Criatividade. Criada pelo empreendedor Denilson Shikako, de 34 anos, – que cresceu na região e se formou em Computação e em Música – a consultoria de inovação nasceu em 2007 e funciona até hoje na mesma sede. Atualmente, atendendo grandes empresas do País, ainda mantém projetos sociais na região, sempre com a motivação de criar e o desejo de transformar.
Há pouco mais de dez anos, surgia no bairro do Capão Redondo, periferia da capital paulista na zona sul, e um dos mais carentes da cidade, o projeto Fábrica de Criatividade. Criada pelo empreendedor Denilson Shikako, de 34 anos, – que cresceu na região e se formou em Computação e em Música – a consultoria de inovação nasceu em 2007 e funciona até hoje na mesma sede. Atualmente, atendendo grandes empresas do País, ainda mantém projetos sociais na região, sempre com a motivação de criar e o desejo de transformar.
Há pouco mais de dez anos, surgia no bairro do Capão Redondo, periferia da capital paulista na zona sul, e um dos mais carentes da cidade, o projeto Fábrica de Criatividade. Criada pelo empreendedor Denilson Shikako, de 34 anos, – que cresceu na região e se formou em Computação e em Música – a consultoria de inovação nasceu em 2007 e funciona até hoje na mesma sede. Atualmente, atendendo grandes empresas do País, ainda mantém projetos sociais na região, sempre com a motivação de criar e o desejo de transformar. A Fábrica de Criatividade é um exemplo do que pode ser feito por um capitalismo mais sustentável, que pense no combate das desigualdades e no avanço das oportunidades, sobretudo, aos mais pobres.
“O mundo é diferente da ponte pra cá”. Um dos versos mais conhecidos do grupo de rap mostra bem a realidade de contrastes de São Paulo. Se, de um lado da zona sul está o Morumbi, um dos bairros nobres da cidade, do outro, há o Capão, que já foi considerado uma das regiões mais perigosas do mundo. A família de Shikako foi uma das vítimas dessa realidade desigual.Em 2000, o pai dele foi assassinado. Com a tragédia, a família de classe média vendeu tudo o que tinha e chegou a se mudar do Brasil, para cuidar da empresa de uma parente nos Estados Unidos. Mas, foi a partir dessa perda que Shikako tirou inspiração para contribuir com a mudança no bairro, fazendo o que se transformou, para ele, num projeto de vida: buscar soluções criativas para superar as dificuldades e ampliar oportunidades.
“Depois dessa tragédia, minha família se mudou, ficamos um tempo fora e retornamos. Eu já tinha o desejo de criar um projeto social e surgiu a ideia de construirmos a Fábrica. A gente precisa tomar essas atitudes para mudar a nossa realidade. Senão, as coisas não acontecem. Nosso interesse sempre foi criar um projeto que tivesse sustentabilidade e que desse ideia e dinheiro para as pessoas”, conta Shikako.
Logo depois que o conceito foi consolidado, as obras do espaço começaram com a ajuda de diversos parceiros.
“Nosso objetivo é despertar a ideia de que a inovação e a criatividade abrem caminhos, possibilidades, e podem mudar trajetórias de vida como essa. Através da arte, a gente consegue criar essa consciência de buscar o novo e, consequentemente, oferecer oportunidades”
O conceito de criatividade e até de reaproveitamento de materiais, rumo a um desenvolvimento sustentável, foi incorporado em todos os detalhes, inclusive na concepção e construção do prédio onde está a sede da Fábrica. Há, por exemplo, portas com bolinhas de gude, uma quadra para jogar “pebolim humano”, paredes com passagens secretas e lousas nas paredes dos banheiros, onde qualquer um pode escrever o que pensa e deixar recados.
Tudo diferente e funcional em um espaço que ganhou ainda o primeiro Centro Cultural do Capão Redondo, com um teatro e espaços onde são oferecidas diversas oficinas de criação. Por mês, cerca de mil pessoas são beneficiadas por esses serviços, oferecidos de forma gratuita ou com preços populares, por meio da Associação Amigos da Fábrica de Criatividade.
“Minha mãe se lembra de uma redação que fiz na quarta série em que eu dizia que queria ser inventor. Eu queria algo realmente revolucionário, no meio do Capão Redondo. A proposta foi criar um lugar que oferecesse ideias às pessoas e, ao mesmo tempo, pudesse gerar renda a elas”.
Em uma dessas atividades, Shikako relembra a história de um garoto. As crianças precisavam contar, por meio de um desenho, o que gostariam de ser no futuro. O menino, então, pegou os lápis e não demorou para construir a imagem de um assalto, onde ele estava com uma arma na mão. A partir disso, um trabalho de conscientização e de encaminhamento do garoto foi realizado.
Consultoria de inovação
A ideia, que começou para valorizar e criar um espaço de mudança no bairro, acabou indo além e se tornou uma das consultorias de inovação mais conhecidas do Brasil. Grandes empresas, como Natura, Danone e a Rede Globo, estão entre os clientes. Para o Banco Itaú, que se tornou outro parceiro e cliente, o co-desenvolvimento do projeto de inovação da organização resultou em ações como um flashmob que reuniu cerca de 5 mil funcionários.
Outro projeto, cuja consultoria foi feita pela Fábrica, envolveu a empresa de cosméticos MaryKay, que desenvolveu o projeto “Nossa segunda é de primeira”, com o programa “Thanks God. It ́s Monday” (em Português, “Graças a Deus. É segunda-feira”). Durante um ano, em todas as 52 segundas-feiras, as operadoras de call-center da empresa tinham atividades diferenciadas, que envolviam diferentes percepções de sentidos e estimulavam a criatividade e a convivência. Vários desses projetos geraram vídeos e textos que podem ser acessados no site da consultoria.
Um dos destaques do trabalho da Fábrica, que tem como lema uma frase do próprio Shikako, “Você erra 100% dos arremessos que você não arremessa”, é acreditar no potencial humano, diante das transformações pelas quais o mundo passa. A Fábrica é apresentada aos projetos que as empresas propõem e as equipes de profissionais de áreas como Marketing, Engenharia, Design e Publicidade e Propaganda, entre outras, desenvolvem ações que estimulem, nos funcionários e gestores, o desejo de inovar.
A ideia é sempre estimular o pensamento criativo. Com isso, o projeto já realizou cerca de 700 treinamentos, 400 consultorias e tem mais de uma centena de projetos implantados em empresas de todos os ramos.
“A criatividade muda o mundo. É ela que queremos despertar para transformar as pessoas. Nós trabalhamos com uma espécie de empoderamento das pessoas, mostrando elementos para que consigam desenvolver a habilidade de serem criativas. É preciso tomar consciência do que se é capaz e sentir-se à vontade para inovar. Mostramos técnicas que proporcionam isso. Tudo resulta na construção de uma empresa integrada e criativa. A criatividade muda o mundo. É ela que queremos despertar para transformar as pessoas”, pondera Shikako.
O sucesso da Fábrica de Criatividade já se expandiu para muito além da ponte que separa o Capão do resto da cidade. Ganhou o mundo. “O Capão é o nosso Vale do Sílicio. Conseguimos ter uma sede ainda mais legal que a do Google!”, brinca o idealizador.
A prova dessa internacionalização está na utilização do espaço do projeto para apresentações e reuniões de cunho mundial. Por lá, bandas como o grupo de hip-hop Black Eyed Peas, conhecido no mundo todo, já se apresentaram. O espaço foi ainda a sede, no Brasil, de reuniões do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Com tamanho reconhecimento e crescimento, o projeto cresceu e precisou de novas unidades.
Atualmente, a consultoria já está no Vale do Silício, conhecido como o centro mundial da tecnologia e inovação, e também no Canadá. Mas tudo isso, sem esquecer as origens e propósitos. Projetos como este são iniciativas pontuais, que começaram muito pequenas, a partir de uma ideia de alguém que acredita no ser humano. No entanto, carregam a capacidade de impacto em médio e em longo prazo por agirem no início da vida de jovens e até mesmo na infância. Torna-se, assim, uma atividade de construção educativa, com ressonância neste e nos séculos seguintes.
Por Mario Quintino